Ao falarmos sobre a profissão docente, sempre surge o assunto “remuneração”. É difícil encontrar um professor que não reclame dela ou que esteja satisfeito com ela. O profissional da educação não vê bem compensado todo o trabalho e o esforço que realiza para manter uma educação de qualidade aos educandos.
Codo (1999), em um breve relato histórico, mostra como surgiu a desvalorização e a baixa remuneração da profissão docente. Ele afirma que a mulher foi chamada, estimulada pelo estado, a desenvolver um trabalho importante para a organização do Estado nacional e a criação de uma identidade nacional, para o qual a educação era fundamental. Porém, pelo simples fato de ser mulher, dependente do homem, que era o chefe da família, e ser vista em segundo plano, seu trabalho não foi devidamente reconhecido e recompensado.
O reconhecimento material pelo realizado estava filtrado nos pressupostos duma identidade de gênero que considerava ao homem como provedor principal da família e a mulher como sua dependente, cujo salário poderia chegar a ser, no máximo, um complemento da renda familiar (CODO, 1999, p. 66).
Além disso, muitas vezes as atividades realizadas na escola eram confundidas com as atividades domésticas; eram consideradas, segundo Codo (1999, p. 66), “um prolongamento de algumas realizadas no espaço doméstico: o cuidado e a educação das crianças”. Assim, tentava-se justificar a baixa remuneração da profissão.
Essa visão ainda existe, principalmente em relação à Educação Infantil. Muitas pessoas consideram a Escola de Educação Infantil como um lugar onde as crianças são apenas cuidadas, onde não há educação.
Mas, voltando ao tema, em relação à má remuneração, Gatti (2000, p. 60), afirma: “Que estímulo podem ter estes professores para investir em seu auto-desenvolvimento e no de seus alunos? Como é possível a uma nação que se quer moderna conviver com isto?”.
Realmente, o salário baixo, muitas vezes, desestimula, desanima. Além disso, para complementar o salário, muitos professores fazem jornada dupla de trabalho. Com isso, jornada dupla e baixa remuneração, de onde ele tirará ânimo para preparar aulas, estudar, fazer cursos, participar de eventos, enfim, ter uma formação contínua para proporcionar aulas de mais qualidade aos educandos?
Interligado a este tema, sempre está o tema “desvalorização”. Assim, como a profissão é mal remunerada, é desvalorizada. Porém, é desvalorizada por ser mal remunerada? Ou é mal remunerada por ser desvalorizada?
Em minha próxima postagem, falarei sobre este tema: desvalorização da profissão docente.
Referências:
CODO, Wanderley (Org.). Educação: Carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes / Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.
GATTI, Bernadete Angelina. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de renovação. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.
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